Camila Lescura

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Homenagem póstumas

 

 

Camila Lescura:

“Que os céus nunca fiquem viúvos de ti”

O Conto do Eterno e A Morte.

Por HARIARKA ARKAHARE

... a história do Vale de Lágrimas...

    Ela estava lá, parada, silenciosa. Esfinge repleta de nada, e ouvia e ouvia.

    Ouvia o ruído dos mares; os sons das escadas; o vento nas folhas de outono; o caminhar das nuvens do céu; o balançar das árvores; o escuro dos telhados à noite; ouvia, ouvia. Só ouvia.

Ouvia o silêncio dos sinos parados, ouvia a luz do crepúsculo

Num inverno chuvoso. Só ouvia.

    Tudo era som, um barulho suave e ‘fatasmal’ que misturava em vendaval todas as coisas, coisas bonitas e feias, numa só coisa bonita, um giro de luzes do tempo, girando cinzento com relâmpagos de esquecimento em torno dela, por todos os dias todos os séculos em dia nenhum;  e girava suave, uma música abstrata.  Toda feita de ruídos e vozes, silenciados rumando de penumbras leves para escuridões eternas.

    E ela ouvia tudo; tudo ficando quieto, e ela lá parada, parada em lugar nenhum, olhando para todos os lugares e lhos fazendo valsar em torno dela, uma perpetua valsa de folhas de outono ao vento, com música de breu de velas extintas, com todas as paredes já sem ninguém caminhando entre elas; todo dia um dia nublado e sem chuva, era de tarde, na hora do pôr-do-sol, ou quase; e tudo valsando quieto em torno dela, sendo e deixando de ser; as conversas dos outros, apagadas e findadas, revertidas e silenciadas. Quase silêncio; mas; aquela canção da natureza toda girando cinzenta em torno dela e valsando uma valsa de lugares no lusco-fosco do sol outonal se pondo, e ela divinamente bem vestida e solitária. Vestida sempre como quem vai a um baile oriental, num longo.  Num vestido longo oriental com turbante verde-mar e uma safira.E tão bem enfeitada e ninguém a viu; tão bela e ninguém nela reparou.  E só solidão e silêncio aos outros e para ela a digníssima valsa das coisas vazias no vazio...

 ... Ela se via; de olhos fechados e sorrindo de boca fechada, levantando em gesto de dança parada, e posando para retrato, aos ombros saboneteira,  cruzando os braços, e abraçando a si mesma, esfinge sem credo e descrente dos que morreram.   

     Ela nunca conheceu ninguém e ninguém nunca falou com ela; pouco importava que fosse mentira talvez, ela não queria pensar, ela queria ser!

     E estava sendo, sendo sozinha. Sendo só ela “A Dama Bela que Escuta a Valsa Gelada” que escuta a “Valsa Gelada em Compasso de um Tambor”; sim, porque havia uma música de fundo; compassava o giro das coisas; era um tambor perpetuamente tocado; e tocando, e tocando e tocando; e solene tocando.

     E ela ouvindo aquele tambor solenemente tocando, e ela lembrando de saber se esquecer, e de olhos fechados olhando todas as  coisas já idas, valsando e valsando e valsando só  em torno dela...

     E ela posando para um retrato, só para si mesma!

     E sorrindo de boca fechada, sorrindo de olhos fechados, com a cabeça bem erguida, e de turbante com safira, vestida tal qual uma rainha oriental, como se tudo fosse só fantasia; a fantasia cara de um baile eterno; um baile eterno do qual ela foi abandonada e deixada e esquecida para lá.  E ela ficou solitária ouvindo  a “Linda Valsa Gelada” que era só dela...

(Só no futuro ela verá que; Ɨ Um menino veio sempre; e lha veio sempre e sempre a consolar com a Marcha De Seu Tambor, e só lá ela verá as coisas Valsarem Maravilhosamente.)

Fanzine número um por: Hariarka Harkahare

Homenagem póstumas

 

18-08-2009

 

 

Narração daquela noite

 

 

 

No coral da praça central,

 

haviam rostos configurados

 

com olhares mudos no tempo,

 

não piscavam os olhos no vento,

 

analisavam cada movimento.

 

 

 

riscavam os céus com emoções, a vibrar.

 

em expansão aquelas almas se revelaram naquele instante,

 

tento desfigurar o discriminador que em mim há,

 

para não arranhar o céu, nem matar a beleza poética daquele lugar,

 

 

 

não bebendo o vinho oferecido,

 

para embriagar-me só de poesias,

 

pois cautela dizia naquela noite fria:

 

“Se o vinho tinto desbotar o colorido daquela noite, como irei saborear?

 

como matar a memória imantada na chapa de minha alma,

 

que ficara a gritar no poço da desilusão?”

 

 

 

O reflexo no espelho d’água, tingido de vermelho,

 

que refletiam naquelas almas ali a se manifestar,

 

almas que volitavam como borboletas e mariposas em volta da fonte,

 

refletiam as luzes tremeluzentes da praça,

 

minha alma tinha sede de gritar,

 

tinha sede de poetizar.

 

 

 

E minha alma só voava nas asas da dama da noite,

 

que de seus lábios deslizavam poemas místicos pelo ar

 

e, com sua boca santa, a dama da noite encantava

 

e estava a profetizar, nos sonhos, fazia-nos navegar.

 

 

 

Se contorciam e convergiam no coreto da praça central,

 

poetas do mesmo instante, e os que passavam como figuras dançantes,

 

e, como ventos uivantes e sussurrantes, almas figurantes cortavam o ar

 

pelos galhos quebrantes de carvalho;

 

naquela noite de orvalhos.

 

 

 

Edson Moraes

 

22 de julho 2009 (Narração do Primeiro Sarau no Coreto da Pça. da Rodoviária Velha) Camila Lescura estava presente, e era a dama da noite do poema.